Mini-Artigo
Técnico por Ester Foelkel
Aspectos Ambientais da Indústria
Moveleira no Brasil
Introdução
As questões ambientais estão ganhando cada vez
mais atenção na vida das pessoas. O setor moveleiro,
por sua vez, pela pressão da legislação
e de consumidores conscientes do mercado nacional e internacional,
tem procurado tomar medidas para tornar sua produção
mais ambientalmente correta. Ainda há muito a ser feito,
mas existem muitos exemplos positivos nessa direção,
como veremos nesse mini-artigo.
As
atividades industriais foram por muito tempo consideradas
como das mais poluidoras pela
sociedade. Hoje, através
da gestão ambiental, busca-se a minimização
dos impactos ambientais por elas gerados com a otimização
do uso de recursos naturais e da energia, reutilização
e tratamento de resíduos, etc. (Schneider et al.,
2003). A busca da sustentabilidade reforça a consciência
ambiental dos gestores e funcionários das empresas,
gerando melhor qualidade de vida dentro e fora da indústria.
As estratégias de proteção ambiental
adotadas pelas empresas melhoram sua imagem frente aos públicos
e mercados. Além disso, diminuem os custos de produção,
aumentando os lucros finais. Tudo isso bem afinado com o
que propõe o desenvolvimento sustentável.
Assim,
programas que visam a gestão ambiental são
atualmente uma realidade no setor moveleiro, o qual apresenta
grandes melhorias nestes aspectos. Contudo, ainda muito
pode ser feito em benefício tanto das empresas como
do meio-ambiente. É por
isso que estudos vêm sendo realizados com foco na
questão
ambiental, avaliando a consciência das indústrias
moveleiras nos principais pólos do Brasil. Estas
pesquisas avaliam as medidas realizadas em busca da sustentabilidade
e também ressaltam o quanto ainda falta para alcançar
esta desejada meta.
Através de revisão bibliográfica,
este mini-artigo tem como objetivo mostrar aos leitores
e interessados
algumas das realidades do setor moveleiro do Brasil em
termos ambientais, incluindo as principais pesquisas que
têm
sido publicadas recentemente sobre o assunto. Pretende-se
levar conhecimento sobre as principais alternativas adotadas
por
indústrias do setor para a conservação
dos recursos naturais: ou seja produzindo melhor e com
menores impactos sobre os recursos naturais.
Economia
e importância do setor moveleiro
Os principais pólos de fabricação de
móveis brasileiros situam-se nas cidades de Bento
Gonçalves (RS), São Bento do Sul (SC), Arapongas
(PR), Mirassol e Votuporanga (SP), Ubá (MG) e Linhares
e Colatina (ES) (Abimóvel, 2006).
O setor moveleiro
possui grande relevância na economia
brasileira, principalmente nas regiões de maior concentração
destas empresas (pólos), por gerar inúmeros
empregos diretos e indiretos, ajudando na circulação
de capital. Dados da Abimóvel (2006) ressaltam que
existiam na época mais de 16.100 empresas atuantes
do setor moveleiro no país, gerando um total de 206.352
empregos diretos. A entidade ainda aponta um grande número
de micro empresas que muitas vezes atuam na informalidade.
A grande maioria das empresas do setor está localizada
no sul e sudeste do Brasil, totalizando 81% do total. O faturamento
do setor foi de R$ 12.543 milhões, sendo 22% deste
valor adquirido com exportação, no ano de 2004
(Nahuz, s/d). Oitenta e cinco por cento das empresas do setor
fabricam móveis predominantemente de madeira (Nahuz,
s/d). Logo, o setor madeireiro faz parte da cadeia produtiva
moveleira por ser o grande fornecedor da sua principal matéria-prima:
a madeira serrada e outros produtos derivados como chapas,
aglomerados e painéis. A madeira do setor moveleiro
provém hoje em sua maioria de reflorestamentos de
Pinus, eucalipto e de algumas árvores nativas brasileiras.
Matérias-primas e resíduos
gerados
Segundo Nahuz (s/d) 80% da madeira na indústria moveleira é efetivamente
usada através das chapas, painéis e madeira
maciça para a elaboração de móveis,
sendo o restante transformado em resíduos. Apesar
de parte dos resíduos proverem da madeira, ainda existem
várias outras matérias-primas utilizadas muitas
vezes para acabamento final como as tintas, vernizes e colas.
Estes também geram sobras que acabam se misturando
aos resíduos de madeiras. Existem também outros
produtos sólidos como vidros e cristais, metais, couros
e plásticos e pedras empregados na confecção
de móveis. Logo, pode-se perceber que há uma
alta variedade de resíduos que variam em forma, tamanho
e estado, tornando complexas as práticas de reciclagem
e reutilização (Nahuz, s/d).
As indústrias
fabricantes de móveis geram resíduos
sólidos, gasosos e líquidos. Os resíduos
líquidos são aqueles provenientes de soluções
químicas e de lavagens e os gasosos são oriundos
principalmente do processo de polimento e lixação
da madeira, ficando as partículas em suspensão
no ar. Há ainda emissões gasosas de processos
de combustão. Os três tipos de resíduos
são capazes de gerar impactos ambientais (Nahuz, s/d).
O mesmo autor aborda que nas zonas urbanas, onde grande parte
do setor moveleiro se encontra, seus resíduos podem às
vezes passarem quase que despercebidos, diluídos nos
grandes volumes de lixo doméstico existente. Isso
entretanto, não significa se descuidar de sua prevenção
e tratamento.
A
questão ambiental
A alta complexidade dos resíduos oriundos de indústrias
produtoras de móveis, conseqüência da grande
variedade de componentes, principalmente quando misturados
(Nahuz, s/d), torna sua gestão difícil, principalmente
para a separação, reciclagem e reutilização.
Ainda não existem programas específicos e permanentes
para a conservação ambiental neste tipo de
setor e estima-se que menos de 5 % de suas empresas estejam
realizando medidas eficientes de conservação
do meio-ambiente (Nahuz,s/d). Logo, vários estudos
estão sendo realizados neste setor buscando diagnosticar
a consciência das empresas e a situação
da gestão ambiental para ajudar no estabelecimento
de metas ambientais setoriais (Venzke, 2002). O intenso uso
de madeira no setor também aponta necessidades da
verificação da procedência desta matéria-prima,
a qual muitas vezes é retirada de florestas de forma
indiscriminada e predatória (Uliana, 2005). Por outro
lado, com os processos de certificação da madeira,
há inúmeros casos de empresas com alta conscientização
e ação ambiental positiva.
Legislação - resíduos sólidos
e seus impactos ambientais
Resíduos
são sobras de processos industriais, domésticos,
hospitalares e agrícolas que não possuem
mais utilidade e nem valor para os seus geradores. Os resíduos
passam a ser lixo e são descartados, podendo causar
impactos ambientais caso seu destino final não seja
devidamente efetuado (Lima & Silva, 2005; Oliveira
et al., 2007).
Na
norma NBR 10004/2004 (apud Nahuz, s/d), os resíduos
sólidos, considerados como os de maior quantidade
gerados pelo setor moveleiro, são classificados da
seguinte forma:
Classe I – considerados perigosos à saúde
humana e meio ambiente sendo seu tratamento obrigatório,
bem como cuidados com armazenamento e disposição.
Os resíduos da classe I são considerados tóxicos
e podem ser corrosivos, inflamáveis e ter elevada
reatividade e patogenicidade. Ex.: borras de tinta, óleos
de lubrificação, etc.
Classe II - considerados não perigosos à saúde
humana. Dividida em:
Classe II A- Produtos que não são inertes
no meio ambiente, podendo ter propriedades biodegradáveis,
solubilidade e/ou combustibilidade. Apesar de não
serem perigosos, tais resíduos também necessitam
de tratamento, causando impactos de menor intensidade no
meio-ambiente. Ex.: papel, lodos de tratamentos de água,
cinzas de caldeira, entre outros.
Classe II B - Resíduos considerados inertes na natureza,
não apresentando constituintes solubilizados em
concentrações
superiores aos padrões de água potável.
Ex. pedras, sucatas e entulhos.
Perante
a legislação,
resíduos derivados
da madeira são classificados como não inertes
(Classe II A). Depósitos destes resíduos,
caso efetuados de maneira indevida, podem ser focos de
multiplicação
e dispersão de insetos filófagos, como
os cupins da madeira seca, ou então esses resíduos
podem até mesmo se queimar . Além disso,
a madeira tratada pode liberar compostos químicos
no solo podendo contaminá-lo. (Nahuz, s/d).
Outro
resíduo derivado da madeira que causa problemas
ambientais é o pó de serra e de lixação
(Nahuz, s/d; Oliveira et al., 2007). Estima-se que
grande parte das empresas no setor (mais de 80 %) não
possui sistema de exaustão central para a captura
deste tipo de resíduo. Isso se reflete em problemas
de saúde
de seus empregados, diminuindo o rendimento operacional
da empresa, principalmente se o uso de equipamento
de proteção
individual (EPI) for negligenciado (Nahuz, s/d).
Os
impactos no ambiente que os resíduos de qualquer
natureza oriundos do setor moveleiro podem causar são
preocupação principalmente das agências
ambientais dos governos, além das próprias
indústrias poluidoras que são obrigadas
a remediar seus danos e a pagar multas. Nahuz (s/d)
alega que há pouca
cobrança e exigência das agências
ambientais no cumprimento da legislação,
o que gera muitas vezes o descaso de algumas empresas
nas questões ambientais.
Estudos-de-caso
envolvendo resíduos
Estudos
vêm sendo realizados contabilizando os resíduos
gerados por empresas do ramo e analisando o destino final
dessas sobras. Vejam a seguir alguns dos resultados já publicados
sobre o tema.
Venzke
(2002), em estudo de caso realizado com 27 empresas do
setor moveleiro de Bento Gonçalves-RS,
objetivando a gestão de resíduos, observou
que 41 % delas realizavam reciclagens externas, 37 % descartavam
em aterros,
7% realizavam reciclagem internas, a mesma percentagem
para o destino de aterros de terceiros. A grande maioria
(63 %)
utilizava seus resíduos para a própria geração
de energia em caldeiras de queima de biomassa. Para o autor,
o fato se explica pela grande participação
de derivados da madeira, que são combustíveis,
no montante dos resíduos das empresas. Já existem
muitas empresas no Brasil que transformam resíduos
de madeira em energia elétrica. Logo, este resíduo é principalmente
utilizado para gerar energias térmica e elétrica,
sendo assim eliminado pela sua queima. Concomitantemente,
geram um benefício ambiental, pois são oriundos
de material renovável (madeira), enquanto os derivados
do petróleo não o são. Segundo a mesma
pesquisa, a maior parte das empresas ainda não está realizando
projetos para redução de resíduos
na localidade.
Schneider
et al. (2003) avaliaram a destinação
de resíduos de 40 % das empresas moveleiras existentes
em Bento Gonçalves, RS. Grande parte dos resíduos
gerados eram oriundos da madeira, sendo que o principal
destino final era a venda a terceiros para outras finalidades
inclusive
como biomassa, 16,5 % das empresas queimavam estes resíduos
e 25,3 % reaproveitavam as sobras.
Lima & Silva
(2005) avalizaram a quantidade de resíduos
gerados e a sua destinação final em 91
empresas do pólo moveleiro de Arapongas, PR.
Os resultados mostraram que os resíduos de madeira
foram os de maior quantidade nessas fábricas
e que eram enviados para processamento em usina de
resíduos
vinculada às
próprias empresas. Os resíduos que não
eram destinados à usina ficavam sob responsabilidade
das empresas que reaproveitam parte deles, queimando
ou vendendo para terceiros.
Uliana
(2005) avaliou a porcentagem média da geração
de resíduos finos e grossos de madeira provindos
da fabricação de quatro tipos diferentes
de cadeiras de uma mesma empresa em São Paulo.
A cadeira que gerou menos resíduos foi a única
que não era
fabricada com madeira certificada. A autora afirma
que o tamanho da madeira era mais adequado a confecção
daquele produto, ao contrário dos outros modelos
que necessitavam de reajustes, consequentemente perdendo
mais
matéria-prima.
Teixeira
(2005) utilizou resíduos
de madeiras provindos de indústrias moveleiras
(serragem e pó de
madeira) em misturas com resinas de poliéster,
havendo um aproveitamento total de 95 % dos resíduos
para essa nova produção. O uso deste
resíduo
de indústrias madeireiras foi considerado
pelo autor como uma forma ecoeficiente de produção
de resinas plásticas.
Alternativas ambientais para o setor
As
empresas poderiam se unir através de cooperativas
locais para a elaboração de sistema de controle
de resíduos, gerando um plano de segregação,
quantificação, reutilização,
reciclagem ou/e descarte adequado de suas sobras (Lima & Silva,
2005).
Algumas
alternativas bastante implantadas em empresas do setor
atualmente são: a produção
mais limpa, que busca a diminuição de resíduos
através do reuso e da adequação da matéria-prima;
o ecodesign, que projeta o produto pensando em minimizar
impactos ambientais tanto de sua produção quanto
na sua posterioridade, aumentando sua moldabilidade e vida útil;
e o uso de madeira certificada.
Outra
medida, talvez a mais importante, tem sido a conscientização
ambiental nas empresas, tanto de seus gestores, donos e funcionários,
através de treinamentos que os orientam sobre os riscos
ambientais que podem gerar as perdas e a poluição,
bem como ensinando medidas de remediação e
treinamentos em caso de acidentes ambientais.
Os
consumidores e a comunidade locais próximos aos
setores moveleiros também devem estar ambientalmente
conscientes exigido e dando preferência à produtos
que causem menores danos à natureza. O melhor caminho
para isto é a educação ambiental.
Consciência das empresas
Através de questionários
e estudos de caso, vários pesquisadores avaliaram a
postura ambiental de empresas moveleiras dos principais pólos
do país.
Alguns resultados se mostram positivos. Contudo, muito ainda
deve e pode ser feito a favor do meio-ambiente.
As
empresas pesquisadas por Venzke (2002) pertencentes ao
setor moveleiro
foram classificadas em uma postura mediana
em termos de receptividade a novas medidas ambientais. O
autor ainda ressalta a potencialidade da utilização
de novas tecnologias ambientalmente corretas na maioria das
empresas, pelo fato de algumas já possuírem
projetos de "ecodesign" e também por já terem
efetuado medidas para diminuição de seus resíduos
e impactos ambientais; contudo, ainda existe muito a se fazer
para buscar a sonhada sustentabilidade segundo o autor na época
do estudo.
Schneider
et al. (2003) apontaram uma preocupação
tímida das empresas estudadas em Bento Gonçalves
com relação ao meio ambiente, havendo na maioria
dos casos procedimentos incorretos e desperdício de
matéria prima.
Oliveira
(2006) realizou entrevistas com 76 empresas moveleiras
de São Bento do Sul e Bento
Gonçalves a fim
de determinar a consciência ambiental de cada uma das
localidades e compará-las de acordo com os tipos de
produção. Em São Bento do Sul, a maioria
dos modelos de móveis produzidos é exportada,
o que faz com que as empresas sigam as exigências estipuladas
pelos clientes internacionais. Já em Bento Gonçalves,
grande parte da produção é destinada
ao mercado doméstico da classe média brasileira.
Os principais resultados observados na época da pesquisa
foram que as empresas de Bento Gonçalves possuíam
menor qualidade ambiental quando comparadas às de
São Bento do Sul. Isto se explicava pelo fato das últimas
seguirem as exigências internacionais das empresas
compradoras.
Castro
e Oliveira (2006), após realização
de estudo de caso em empresa fabricante de móveis
no estado do Paraná, observaram preocupação
com questões ambientais, resultando em ajustes na
cadeia produtiva e adoção de práticas
de gestão ambiental.
Certificação
florestal e da madeira
O
uso consciente e sustentável
da madeira diz respeito a processos que envolvem todo o seu
ciclo, iniciando-se desde
a produção da muda, seu plantio, ao manejo
dado ao reflorestamento, seu corte final e a utilização
ambientalmente correta de sua madeira pela empresa moveleira.
As boas práticas de manejo florestal crescem na mesma
medida que os consumidores se conscientizam da importância
e do seu papel na conservação dos recursos
naturais do planeta. Logo, a certificação florestal
surgiu como uma garantia de que a madeira provém de
reflorestamentos monitorados pelas certificadoras e que obedecem
a práticas sustentáveis de manejo (Imaflora,
2008). Também reconhecidos como selos verdes, as certificações
são consideradas um avanço para a conservação
ambiental (Uliana, 2005).
Muitas
empresas do setor moveleiro, principalmente as exportadoras,
são pressionadas pelos
seus principais compradores a comprovarem o uso de madeira
certificada em seus produtos.
Isto evita que madeiras de florestas nativas e protegidas
sejam extraídas de forma irregular e clandestina e
que sejam utilizadas para a confecção de móveis
(Uliana, 2005; Oliveira, 2006). Há ainda processos
de certificação para madeira de florestas naturais,
desde que comprovadas as boas técnicas aplicadas na
sua extração e processamento.
Logo,
a certificação
florestal garante boas práticas de manejo sustentável
dos reflorestamentos contribuindo para que a sustentabilidade
se estenda à produção
de móveis (Uliana, 2005). Essa comprovação
deve permitir rastreabilidade ao logo da cadeia produtiva,
também referida como cadeia-de-custódia.
Produção mais limpa
Com
a crescente preocupação com o ambiente,
bem como da necessidade de se praticar o desenvolvimento
sustentável, criaram-se as práticas da produção
mais limpa (PmaisL ou simplesmente P+L). A metodologia foi
desenvolvida pela UNIDO (United Nations Industrial Development
Organization) e atualmente é uma das principais opções
ambientais para o desenvolvimento de indústrias de
países subdesenvolvidos e/ou em desenvolvimento. A
implementação da produção mais
limpa em indústrias prioriza a diminuição
ou a não geração de resíduos,
através da otimização do uso da matéria-prima
e dos processos (Senai, s/d). A P+L prioriza o uso de fontes
de energia renováveis ou utilização
consciente dos recursos não renováveis, causando
o mínimo possível de emissões na atmosfera
(Castro e Oliveira, 2006). Assim, as técnicas de produção
mais limpa envolvem toda a cadeia de produção
do produto desde antes da porteira, sendo necessário
o planejamento e o estabelecimento de prioridades em seqüências
que devem ser seguidas. Estas são: prevenção,
redução, reuso e reciclagem, tratamento com
recuperação de materiais e energias, tratamento
e disposição final (Barbieri apud Castro e
Oliveira, 2006).
As
inovações tecnológicas
promovidas pela produção mais limpa, além
de benefícios
ambientais, também atuam eficientemente na melhoria
sócio-econômica da empresa e da comunidade local.
As principais vantagem da técnica são: aumento
da competitividade e do lucro da empresa, cumprimento das
normas da legislação ambiental, melhoria da
qualidade de vida e de segurança de trabalho dos funcionários
e socialmente, a empresa passa a ser vista com outros olhos,
melhorando suas perspectivas de mercado.
Na
busca da sustentabilidade, as tecnologias mais limpas buscam
a prevenção
da poluição,
utilizando os recursos naturais com eficácia e gerando
alternativas viáveis para reutilização
e recolhimento de resíduos (Venske, 2002).
Castro & Oliveira
(2006) observaram em estudo de caso de uma empresa moveleira
em Marumbi – PR, mudanças
no processo de produção ao longo dos anos,
efetuando-se o reaproveitamento de resíduos anteriormente
descartados. Logo, o estudo evidencia a crescente preocupação
da empresa com o meio-ambiente que passou a adotar práticas
da produção mais limpa, visando a sustentabilidade
e a economicidade da produção.
Zoldan
et al. (2006) relatou as inovações feitas
em empresa produtora do setor moveleiro do Paraná em
busca da minimização de impactos ambientais,
maior competitividade e economia. A empresa implantou medidas
de produção mais limpa, substituindo o óleo
diesel utilizado como combustível para o aquecimento
de caldeiras pela energia térmica proveniente de seus
próprios resíduos de madeira de Pinus. A biomassa
de Pinus gerou para a empresa uma economia de 140 litros/mês
de diesel, contribuindo para a diminuição de
emissão de gás carbônico gerado pela
queima do combustível não renovável
na atmosfera. Os autores ressaltam que as medidas de produção
mais limpa têm início desde o manejo das florestas
plantadas até as técnicas de minimização
de geração de resíduos e reaproveitamento
destes na indústria.
Gestão
e inventário de resíduos
Uma
das principais alternativas que vem sendo empregada para
a gestão de resíduos
em indústrias moveleiras é o
inventário de seus resíduos gerados. Isto
garante dentro da legislação a separação
correta das sobras dando tratamento e destinos adequados
aos efluentes e resíduos (Nahuz, s/d).
A
realização
de estudos de viabilidade econômica
e ambiental também são outros pontos a serem
realizados no gerenciamento de resíduos, implementando
ações favoráveis para a empresa e
para a natureza (Nahuz, s/d). Outra alternativa tem sido
a criação
de bolsas de resíduos, gerando novas oportunidades
e produtos em outros segmentos industriais interessados
em transformar resíduos em suas matérias-primas
ou combustíveis. Tal medida ajuda a promover o reuso,
a reciclagem, a disposição adequada de resíduos
e a diminuição dos custos através
de incentivos e de troca de informação e
da união
e intercâmbio de tecnologias de indústrias
de vários setores (Nahuz, s/d).
"Ecodesign"
O "ecodesign" pode
ser igualmente referido como: design verde, design ecológico,
design ambiental ou, ainda, na língua inglesa, "lifecycle
design" (Garcia,
2007; Wikipedia, 2008; Ecodesign collaborative, 2008).
O "ecodesign" consiste
na engenharia e manufatura de produtos levando em conta
a importância do
meio-ambiente (Pereira, 2003). Isto abrange uma projeção
que minimize os impactos ambientais que seriam gerados
pela produção e uso desses produtos.
Logo, planejar ambientalmente um móvel depende
de uma criatividade consciente visto que decisões
iniciais virão
a influenciar toda a cadeia de produção,
bem como os seus resíduos gerados (Lewis e
Gertsakis apud Garcia, 2007). Praticar o "ecodesign" abrange
conceitos sustentáveis como a qualidade ambiental
e benefícios
sociais e econômicos (Pereira, 2003; Ecodesign
collaborative, 2008).
Segundo
estudos realizados por Tischner e Charter apud Garcia (2007)
o "design",
ou fase de desenvolvimento de projetos, pode influenciar
em torno de 80 % dos impactos
ambientais gerados pela produção
e pelo próprio
produto quando este for descartado. Isto torna
esta etapa de criação e de decisões
tecnológicas
extremamente relevante para questões que
se relacionam ao futuro ambiental do planeta, pois
um
produto pode gerar
impactos no meio durante todo o seu ciclo de vida,
do seu berço (ou concepção)
até o túmulo
(ou descarte ou reciclagem).
O "design" por
si só já é um
dos principais mecanismos de competição
das indústrias do setor moveleiro e busca
atender as necessidades do consumidor, tornando
aspectos como conforto, ergonomia
e a funcionalidade cada vez melhores. Já que
o "design" busca
o que o consumidor necessita, o "ecodesign" vem
atender aos valores ambientais destas pessoas
exigentes que ocupam um espaço já representativo
nos mercados nacionais e internacionais (Silva
e Oliveira, 2006).
O "ecodesign" ou "design
para o meio ambiente",
assim também referido por alguns especialistas,
leva em conta a criação de produtos
ambientalmente corretos e que possuam competitividade
de mercado: preços
acessíveis, boa performance e qualidade
(Graedel e Allenby apud Garcia, 2007).
Segundo
Garcia (2007) a aplicação do "ecodesign" consiste
na identificação de problemas
ambientais críticos
do produto, no estabelecimento dos objetivos
do "ecodesign",
na aquisição de informações
sobre "ecodesign",
na geração de idéias
de "ecodesign" e
na sua efetiva implantação.
Através
de pesquisa bibliográfica, o mesmo
autor aponta as novas tendências para
os móveis
de escritório
que estão ocupando menor quantidade
de matéria-prima
para a construção devido às
inovações
tecnológicas que favorecem o "ecodesign".
Outra nova tendência é a flexibilidade
destes móveis que podem servir para
mais de uma função,
conceito também empregado no "ecodesign".
Os móveis de escritórios estão
menores e exigem menos espaço devido
ao surgimento de novas tecnologias da informação
que ocasionaram a mudança dos hábitos
e funções
das pessoas. Esta mudança também
deveria estender-se às
reais necessidades dos escritórios,
diminuindo a contínua
troca de móveis que prejudica o "ecodesign" pela
menor da vida útil do produto. O mesmo
autor realizou estudo de caso em indústria
moveleira de médio
porte especializada na construção
de móveis
de escritório. Observou-se que a melhor
forma de praticar o "ecodesign" é através
do redesenho ambiental dos produtos.
A
maioria das empresas do setor moveleiro estudadas
por Venzke (2002) possuíam medidas
de controle e monitoramento de gastos energéticos,
o que, segundo o autor, é uma
prática associada ao "ecodesign".
No mesmo trabalho, houve elevada durabilidade
dos móveis e
seu conserto foi considerado de baixo grau
de dificuldade, o que também se
enquadra nos conceitos do "ecodesign",
que prioriza o aumento da vida útil
dos produtos. As indústrias pesquisadas
afirmaram que as principais dificuldades
de implantação do "ecodesign" são
os custos elevados da implementação
de programas ambientais, desconhecimento
de novas tecnologias relacionadas
com o tema, falta de fornecedores de materiais
ambientalmente corretos e falta de cultura
ambiental dos funcionários
e consumidores, entre outros.
Alguns
dos principais problemas são a resistência
ao "ecodesign" e a relativa falta
de informação
existente nas indústrias do setor
sobre o como praticar esse desenho ambiental
do mobiliário. De acordo com
Garcia (2007) muitas empresas não
aplicam o "ecodesign" em
suas produções, não
usufruindo das vantagens ambientais e econômicas
que este traz. Parte das empresas do setor
não possui "designers" (Devides,
2006), o que consequentemente contribui
para que o "ecodesign" também
não seja implementado como medida
de sustentabilidade.
Considerações finais
A grande maioria dos trabalhos pesquisados
sobre a indústria
moveleira e aspectos ambientais são recentes e seus
resultados evidenciam que ainda existe um caminho a ser percorrido
em busca da sustentabilidade. Muitas empresas já foram
despertadas e estão atuantes em relação
a isso, mas muitas sequer tomaram uma posição
em favor de práticas e posturas ambientalmente mais
corretas e sustentáveis.
A maioria dos estudos de caso mostra a potencialidade de
muitas empresas do setor para mudanças ao longo da
cadeia produtiva através do uso de tecnologias limpas,
do "ecodesign", da certificação florestal
da madeira, do gerenciamento dos resíduos, da produção
mais limpa, dentre outros.
Uma
das formas mais concretas da aquisição
da sustentabilidade é a conscientização
ambiental das empresas que em muitos pólos moveleiros
ainda deixa a desejar. Muitas indústrias do setor
resistem a medidas ambientalmente corretas, achando que
tais ações geram somente despesas e não
resultados financeiros. Isto não é verdade.
A longo prazo, empresas que buscam a sustentabilidade,
além de estarem
conformes com a legislação ambiental, são
melhores vistas pela comunidade, aumentando o consumo de
seus produtos no mercado sem que haja modificação
nos seus custos de produção.
Não basta
que apenas as empresas contribuam com medidas de conservação
ao meio-ambiente. O governo e a própria comunidade
também devem unir esforços
para assegurar a qualidade da vida e do ambiente para as
futuras gerações no planeta (Teixeira, 2005).
É
importante que estudos ambientais do setor moveleiro continuem
a ser realizados, incentivados e publicados, despertando
a consciência ambiental da sociedade, das empresas,
dos compradores no Brasil e no exterior e do governo brasileiro.
A
adoção de práticas ambientalmente
corretas nas empresas moveleiras reduziria o desperdício
da madeira, sua principal matéria-prima. Tais medidas
colaborariam para suprir a demanda crescente da madeira
mundial. O "ecodesign", através do aumento
da vida útil
do móvel também contribuiria cada vez mais
para o melhor uso da madeira.
Infelizmente
há muita
coisa acontecendo na contramão
desses conceitos, como o projeto de móveis e outros
produtos "descartáveis" após curto
uso. Entretanto, cresce também a parcela da sociedade
que enxerga cada vez com mais clareza os aspectos ambientais
dos produtos, valorizando todos aqueles com os quais tem
intimidade na vida diária. Entre esses produtos estão
os móveis, que acompanham o ser humano ao longo de
toda sua vida, também do berço ao túmulo.
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